quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Dormi


O vento frio entrava pela janela do quarto, bem debaixo do meu cobertor e fazia percorrer pelo meu corpo um arrepio, de frio, sozinho. Eu perdia tempo, tentando ter tempo pra fazer a única coisa que me importava naquele tempo. A luz da lua iluminava meu quarto, uma luz triste e melancólica, que me trazia lembranças de um tempo que acabara de passar. Um tempo feliz e só meu.

Dormi.

Sonhei que ia à casa dele, olhava para aqueles olhos e sentia aqueles braços num abraço sem fim. Conversávamos sobre várias coisas, ríamos juntos, dançávamos e nos beijávamos. E aquilo era tudo, porque não havia nada além daquilo e sabíamos que nunca haveria.

Acordei.

Na verdade nem tinha dormido. Outra luz agora iluminava meu quarto. Uma luz meio amarelada. O sol? Sim, o sol. A espera se tornou  minha maior angústia. É como se toda a minha vida eu tivesse passado incompleta e de repente, alguém me completou, perfeitamente. E de repente, cá estou. Sentindo falta dessa parte.

Quando dei por mim, estava na escrivaninha, escrevendo algo. Uma carta, talvez. Prometi a mim mesma que enviaria essa carta assim que possível. As palavras que estavam escritas nela eram tão urgentes quanto meus sentimentos.

Enviei a carta. As pessoas na rua me pareciam tão estranhas, tudo era tão cinza. O ar era quase sólido e mesmo no verão eu sentia frio. Me vi novamente em casa. Todos os cômodos vazios. O vento assobiava uma canção de desespero e de coleguismo. Como se ele soubesse como é percorrer todas as ruas, todos os lugares em busca daquilo que se quer encontrar e a única coisa que conseguisse fosse um assobio.

Cantei e falei. Pedi ao vento que levasse minhas palavras a pessoa que tanto amo. Na verdade, a pessoa que mais amo. Fiquei esperando resposta. O vento soprou forte, batendo as janelas violentamente. Talvez ele tivesse me escutado, e se eu tivesse muita sorte, talvez, só talvez, ele também estaria sentido minha falta. E gritando aos ventos pelo meu nome.

Se assim fosse, nossas palavras se encontrariam no meio do caminho e se contemplariam, aproveitando a presença uma da outra, enquanto palavra, enquanto parte de mim, parte dele.

Voltei para o meu quarto.

O vento frio entrava pela janela do quarto, bem debaixo do meu cobertor e fazia percorrer pelo meu corpo um arrepio, de frio, sozinho. Eu perdia tempo, tentando ter tempo pra fazer a única coisa que me importava naquele tempo. A luz da lua iluminava meu quarto, uma luz triste e melancólica, que me trazia lembranças de um tempo que acabara de passar. Um tempo feliz e só meu.

Dormi.


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