segunda-feira, 23 de maio de 2016

A hora de cada hora



Gabriela se remexia inquieta em sua cama, não conseguia dormir. Se levantou e foi brincar na sala. Sua mãe, Carla, ainda acordada, se surpreendeu ao ver sua filha ainda acordada, apesar da ordem dada anteriormente.

- Gabriela, eu já lhe disse para ir dormir. Já são 23h! Isso não é hora de uma mocinha como você estar acordada!
- Maaaas mãe!
- Nem mas nem menos!
- Eu não consigo dormir! Você não entende!
- Sente-se aqui, Gabi - ela se sentou no sofá, ao lado de sua mãe - Está vendo aquele relógio? Ele é um relógio mágico!
- Ah é? - os olhos de Gabi brilharam de interesse.
- É sim! Ele mostra as horas e também a hora de cada hora!
- Como assim, mãe?
- Cada lugar que o ponteiro pára indica uma função ou atividade que devemos realizar, como mágica!
- Ainda não entendi!
- Quando o ponteiro maior estiver no número nove significa que é hora de ir para a cama.
- Ah... e se essa mágica não acontecer?
- Ai é que está! A mágica sempre acontece, mesmo quando parece não acontecer! Você não estar na cama agora nos possibilitou ter essa conversa, mas espero que entenda que se um horário não for cumprido, ele atrapalhará todos os outros.
- Eu duvido!
- Veremos!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Quando ela bate à porta



Era uma sexta-feira chuvosa, eu me aquecia com roupas quentes, tomava um bom chá e lia um ótimo livro. Nada poderia mudar isso, até que algo mudou. Alguém bateu à porta. Quem poderia ser naquela hora, com aquela tempestade? Com um leve mau humor saí de minha zona de conforto e fui até a porta, já sentindo o vento gelado. Ao abri-la me deparei com uma figura um tanto peculiar.

Era uma mulher com os cabelos mais negros que eu já vi, ela tinha uma pele dourada, olhos marcantes e estava completamente encharcada. Apesar da insegurança que reina na sociedade atual, não pude deixar de ser solidário e a deixei entrar. Uma completa estranha, em minha casa, no meio de uma tempestade e já tarde da noite. Quem diria que isso atrapalharia minha leitura noturna? Quanto infortúnio! Tentando não pensar no meu livro, que me encarava culposamente em uma mesa próxima, a ofereci toalhas, um casaco e um chá quente. Ao estar devidamente aquecida, nos acomodamos na sala de estar e então julguei ser a hora de cumprir todas aquelas convenções sociais.

domingo, 15 de maio de 2016

Sinto muito!



"Sinto muito. Sinto mesmo!"

Aquela caligrafia bonita, impressa em folha branca, o encarava persistentemente. Como pequenas palavras poderiam guardar tanto significado? Esse é o tipo daquelas perguntas que todos querem saber, mas não fazem ideia da resposta.

Paulo fingia andar despretensiosamente pela sala, mas na verdade aquelas palavras alfinetavam o seu cérebro.
Quão grande pode ser o abismo entre o que é dito e o que é entendido? Ou será que esses pensamentos estavam servindo apenas para aliviar o temor de realmente saber o que tudo aquilo significava?




quinta-feira, 12 de maio de 2016

Eu, você, duas pingas e um Louco

- Muié, qual'é o mistério da vida?
- Vá saber, Homi! A única cois que sei agora é que o dinheiro diminui e as dúvidas aumentam.
- Ah sim! Li algo a respeito nu jornal, ontem. Dizem que é assim que as coisas têm sido. Intāo assim deve de ser...
- Amém!
- Homi?
- Árra! Diga, Muié!
- Ontem tive um sonho estranho.
- Já lhe disse pra num creditá nessas coisas, mas tu do jeito que é...
- Sonhei que eu ia imbora pra longe e que tinha muitos nomes.
- Isso num faz sentido nenhum, Muié! Essa pinga é das ruim é?
- Árra!
- Oia só! O Louco tá bebendo um copo vazio, Muié!
- O copo tá cheio, mas de algo que o sinhô num pode ver! Porque o essencial é invisível aos olhos!
- Mas que cara culto, Homi, respeite o sinhô. Se ele fala assim, com certeza deve de entender das coisas que ele entende!
- Se ocê tá dizendo... eu é que num vô contrariá uma muié com uma pinga na mão!
- Faz bem, seu sinhô! Me diga aqui, sinhô, em título de segredo, por que me chamou Louco?
- Ocê pode prová que num é Louco?
- Não, num posso.
- Todo mundo é louco inté que se prove o contrário!
- Ah, Homi! Ocê é mesmo dos inteligente viu!
- Claro, muié! Sou das meió qualidade. Lembra quando lutei braço a braço com aquelezinho desaforado?
- Árra, Homi, faz tanto tempo! Esquece dessas coisas!
- Num esqueço é nunca!
- Que se passou, sinhô?
- O sinhô Louco há de me intendê quando o assunto é as muié! Antes da muié virar minha Muié, havia um tipozinho dos estranho, que veio do vilarejo vizinho e se dizia doutô. Num é que ele cismou que a muié seria Muié dele? Árra! Entramo-nos numa das luta corporal e arranquei-lhe o dente das frente.
- O sinhô há de estar certo! Muié dos otro é pimenta que tanto bate até que fura.
- Deve de ser mesmo... Gostei d'ocê Louco, vou lhe pagar uma pinga das boa, pra encher seu copo que já tá cheio. Pode de ser?
- Árra, Muié! Agora que o sinhô dos Louco já partiu os calcanhá, num é que me pareceu que ele num tinha os dente da frente também? Muié? Árra! Mas essa pinga é das boa mesmo! Muié?
Alguém viu minha Muié?