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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A pedra na minha água




Naquela terça (ou seria quarta?) eu encarava um gorrinho de um papai Noel e me teletransportava para um passado um tanto distante. Acredito que a passagem dessa viagem louca foram algumas palavras que saltaram aos meus olhos. Elas pareciam aleatoriamente organizadas em vários poemas, mas aqueles poemas não me enganavam. Como é possível alguém usar tantas palavras diferentes em cada um daqueles poemas, mas ainda assim todos falarem da mesma coisa? É... quando algum desejo está vivo em nós ele fica presente em tudo que fazemos e falamos, mas para a sorte de todos, poucas pessoas conseguem notar isso.

Aqueles poemas escritos em um velho papel me transportaram a um passado distante... então me vi perguntando a mim mesma como podem duas pessoas com tanta intimidade terem tamanha distância no entendimento de seus diálogos? Eu estava sentada em um sofá, arrumada para passar mais um natal na sala, assistindo ao Roberto Carlos. O homem que eu amava estava logo ali, cantando canções e rindo como uma criança. E eu estava absorta nesses pensamentos, pois há poucos minutos (naquele passado) havia descoberto que todos aqueles anos que eu pensava ter sido uma companheira exemplar, eu simplesmente não havia atingido as expectativas daquele homem. Eu não era nada do que ele esperava que eu fosse. Enquanto na contramão, ele era muito do que eu esperava (não cem por cento, mas uns oitenta talvez).

Imagine então como você, leitor, se sentiria no meu lugar. Por anos achei que cumpri à risca o meu papel e estava bem satisfeita com isso. Então, ao começar a sentir certo incômodo na distância que começou a ser criada entre nós, eu o indaguei até que ele resolveu falar. E quando ele falou, todo o mundo que eu havia construído em minha mente se desabou. Como eu não pude perceber? Como ele pode não me falar por todos aqueles anos?

Por que para algumas pessoas é tão mais fácil viver anos insatisfeito com algo até que a situação fique insuportável ao invés de dialogar e expor aquilo que precisa ser melhorado? Por que um diálogo causa tanto incômodo e por que alguém se sabotaria a esse nível? A ausência do diálogo pode tornar impossível a solução ou o entendimento de alguma situação.

São tantas perguntas... a questão é que escrever novos poemas sobre velhos fatos não muda nada! “Aquilo que não se resolveu a tempo perdeu sua validade”. E eu naquele sofá também estava vencida. As minhas opções haviam se esgotado. Ou eu ignorava tudo aquilo e continuava vivendo uma mentira ou me libertava, o libertava e partia para outra vida em uma galáxia muito distante.

Não é preciso escrever o desfecho dessa história.

Voltando para a terça (ou quarta) no presente, eu me via novamente sentada em um sofá (outro sofá) passando por outro Natal, esperando pelo especial do Roberto Carlos enquanto observava o homem que eu tanto amava ali na minha frente, cantando de forma bem animada, parecendo uma criança... “Eu tenho tanto para lhe falar, mas com palavras não sei dizer”... Ele olhou para mim e então eu soube o que ele diria a seguir. E te garanto, caro leitor, que não seria “como é grande o meu amor por você”. Te garanto...

Mas não é preciso escrever o desfecho dessa história.


terça-feira, 21 de agosto de 2018

(R) Estar

Naquela terça (tinha que ser na terça...) eu me perdi em memórias... Tudo o que me lembrava era de um sorriso e de uma lágrima. Despedidas são sempre complicadas, mas muitas vezes necessárias. E nessa mesma terça eu estava refletindo sobre o papel que algumas pessoas exercem na nossa vida.

Algumas pessoas chegam na nossa vida e não vão embora nunca mais. Outras tem prazo de validade: chegam, ficam por um tempo muito específico e depois vão embora. Também existem aquelas que vão embora, mas voltam... a única constante aqui é a transformação. Pensando mais um pouco sobre isso, vejo que eu também tive prazo de validade na vida de algumas pessoas, cumpri meu papel e fui embora. Também já fui e já voltei e também já cheguei para nunca mais ir.

No momento em que as pessoas se vão, muitas vezes é difícil entender o porquê. Talvez demore alguns anos para compreendermos que aquela pessoa tão querida foi embora porque cumpriu sua quest, sua missão e agora tem outras mais para cumprir. Também podemos passar uma vida inteira sem ter tal discernimento, o que é triste, pois nos deixa um buraco no peito, não entender porque alguém tão querido nos deixou. É como se fosse um mistério que não foi resolvido.

E se tem mistério maior que esse, é saber o impacto que a nossa ausência pode ter causado em alguém. E até mesmo a ausência marca uma presença...

Se hoje eu tenho lembranças é que porque em algum momento, por mais breve que tenha sido, tive o presente, ops, a presença.

Um sorriso, uma lágrima, uma viagem, um retorno, um violão, olhos azuis e olhos castanhos, um texto, um livro, uma música, um cheiro, um sabor, um hambúrguer, um violoncelo, uma estrela, um trabalho, uma escola, uma casa e pessoas... Coisas simples e até mesmo corriqueiras que ganharam um novo significado (ou melhor dizendo, se tornaram significantes). E hoje, o que ficam são os significantes e as representações. Só restam as memórias... mas até quando elas irão restar? Até quando eu (r) estarei?


quarta-feira, 11 de julho de 2018

Reforma



"Mudança introduzida em algo para fins de aprimoramento e obtenção de melhores resultados"

Quem nunca esteve em reforma? Quem nunca buscou estar em uma nova forma? E o que de novo podemos trazer a uma velha forma?

Tantas perguntas...

A reforma me trouxe reflexões, me fez questionar primeiramente, como adquiri a forma que tenho hoje. Será que é uma forma gasosa, líquida ou sólida? Percebi que, dependendo da pressão exercida sob a minha forma ou se as coisas ao redor dela estiverem ou muito frias ou muito quentes, ela pode mudar.

Também me questionei se as mudanças exteriores à forma provocavam mudanças interiores também ou vice-versa.

Talvez o processo se iniciasse internamente e consequentemente provocasse uma reação externa, visível a todos aqueles que queiram enxergar.

Ou talvez algo no ambiente provocasse uma mudança externa à forma e consequentemente isso causasse uma mudança interna, vísivel a poucos olhos. 

De qualquer forma, a forma se reforma sempre. E como vemos frequentemente por aí, placas se sentem culpadas porque a reforma causa transtornos. 

Transtornos a quem se reforma e a quem está próximo também. E por que se desculpar por estar em reforma?

Des-culpar - é como se a própria palavra tirasse a culpa de quem a estivesse carregando.

Seja como for, caso você queira ou não carregar a sua própria culpa, sigo eu me reinventando, carregando apenas aquilo que a mim pertence e a mim diz respeito. Porque é com esse material (que é só meu) que eu sigo fazendo a minha re-forma.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A arte de se relacionar: algumas coisas que você precisa saber



Relacionamento: a possibilidade de criar laços com alguém.

Se você está ou já esteve em um relacionamento tem ideia do que estou falando. Algumas pessoas dominam a arte de se relacionar, enquanto outras têm certa dificuldade e não é à toa.

Não existe uma fórmula secreta para ter um bom relacionamento, mas existem algumas coisas que precisamos nos atentar:

1 – Ninguém pertence a ninguém

É bem simples, apesar de ser muito difícil para algumas pessoas aceitarem isso. Você não pertence a uma pessoa e nem outra pessoa pertence a você. Portanto, se você está em um relacionamento com alguém, essa pessoa pode estar com você por diversos motivos, mas o principal deles é porque ela quer. Apesar de parecer um pouco assustador, tente enxergar a maravilha disso! A outra pessoa poderia estar sozinha ou com outro alguém qualquer, mas escolheu dedicar um tempo da vida dela a você. Aproveite a oportunidade.

2 – Confiança

A confiança é algo que constitui a base de um relacionamento, assim como o respeito. É preciso aprender a confiar que a pessoa respeitará aquilo que está acordado entre vocês. Por exemplo, se vocês optaram pela fidelidade e por não ter outros parceiros, vocês precisam confiar que o seu companheiro manterá aquilo que foi acordado. Confiar é essencial, entretanto confiar cegamente (de forma irracional) também não é saudável. Se você desconfia de algo, seja sincero e converse com seu parceiro.

3 – Ciúmes

Muitas pessoas, apesar de confiarem em seus parceiros, ainda sentem ciúmes. O ciúme nem sempre é sinônimo de desconfiança. Na verdade, o buraco é mais embaixo... Nem sempre é possível identificarmos facilmente qual é a base de nosso ciúme, mas é possível sim se atentar a todos os fatores que o mantem. A dica geral aqui é: pare e pense. Se coloque no lugar da outra pessoa e pense se isso (seja lá o que for) é realmente motivo para sentir ciúmes. Se for, converse com seu parceiro.

4 – Respeito

Respeito é bom e todo mundo gosta. É o que dizem por aí. Às vezes o nosso parceiro não quer ver aquele filme que amamos ou sair com aqueles amigos que adoramos. Outras vezes eles vão tomar algumas decisões que podemos até não concordar, mas sempre precisamos respeitar. Respeitar as escolhas, as decisões, o espaço.

5 – Converse: o óbvio nem sempre é óbvio

Converse. Simples assim? Converse com sinceridade e com respeito. Se você não concorda com algo ou não gostou de algo que o parceiro fez, diga. Se você não disser, a outra pessoa não adivinhará. O que é óbvio para você pode não ser para o seu parceiro. Muitas vezes também nos enganamos com algo e nesses casos isso só poderá ser esclarecido se expormos o que pensamos e sentimos. 

6 – Sim, você pode viver sem o seu companheiro

Essa afirmativa pode ser mais dolorida para algumas pessoas do que a primeira. Você viveu vários anos antes de conhecer o seu parceiro e certamente será capaz de viver vários outros sem ele também. Isso significa que você tem um coração de pedra? Não. Significa que precisamos saber quando um relacionamento não anda bem e quando começa a nos fazer mal. E ainda assim é possível ver a beleza na afirmativa acima! Porque apesar de ninguém pertencer a ninguém e de você ser capaz de viver sem o seu companheiro, você ainda optou por mantê-lo em sua vida! Que privilégio hein! Aí está a beleza da coisa!

Lembre-se de que ninguém passa pela nossa vida à toa. Todos têm um papel a cumprir. Seja alegrar brevemente o nosso dia ou mudar o rumo da nossa história. E como não adianta muito sofrer com o futuro, viva o presente e aproveite tudo aquilo que a pessoa que está ao seu lado tem a lhe oferecer!

Se ame e se deixe amar!


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Para seguir o coração é preciso coragem!



Do latim, coraticum. Se você pesquisar no dicionário verá definições relacionadas com bravura para enfrentar situações difíceis. Além disso, essa palavra se deriva de cor, do latim, coração. Percebe alguma semelhança? Não é à toa! Para seguir o coração é preciso coragem. Para seguir o coração é preciso bravura para enfrentar situações difíceis.

Quantas vezes você já deixou de fazer algo porque não teve coragem? Quantas vezes deixou de seguir o caminho do seu coração? Ah! Não se engane! Muitas vezes seguir o caminho do coração pode também significar se afastar de algum amor, porque isso não te faz bem. Pode significar se livrar de pessoas, de coisas e de situações!

É preciso ter muita coragem para abrir mão das coisas e das pessoas. É muito difícil ir e deixar ir. Por isso, lembre-se sempre do jardineiro! Ele cuida muito bem do seu jardim. Ele tira tudo aquilo que precisa ir embora, alguns galhos velhos ou fora do lugar, limpa os arredores, cuida da terra e rega o jardim. Com muito cuidado e paciência o seu jardim fica muito bonito. E o mais importante: por mais que o jardineiro ame o seu jardim, ele sabe que ele não pode o tomar para si. O que aconteceria com a mais linda flor se lhe tirassem da terra? Morreria. O amor maior e o cuidado consistem sobretudo no respeito e no entendimento dos limites, dos nossos e dos outros.

Portanto, coragem! Cuide bem do seu jardim. Cuide bem do seu coração!


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Retrospectiva 2016


O que tivemos a oportunidade de aprender em 2016?

1 - Aparentemente, independente de todos os nossos questionamentos, dúvidas e pensamentos, o sol irá nascer na manhã seguinte. Então não se culpe por tudo, nem fique preso em situações desnecessárias

2 – Que ser filho e ser pai não é tarefa fácil, mas que ainda assim a nossa família pode nos render momentos de diversão e tranquilidade.

3 – Estamos sempre buscando a felicidade, que em vários momentos é simbolizada por coisas, pessoas ou momentos. E que quando um objetivo é alcançado, outros tomam o seu lugar, tornando a busca incessante. 

4 – Aprendemos a questionar o nosso papel na sociedade em que vivemos e que não necessariamente somos apenas um erro irritante sublinhado de vermelho em um enorme fundo branco.

5 – Que não adianta fugir dos sentimentos, principalmente do amor.

6 – Podemos até não ter mudado o mundo inteiro, mas com certeza o amor que sentimos, em algum momento, nos faz desejar que o mundo se torne um lugar melhor.

7 – Aprendemos que não devemos responsabilizar os outros pela realização dos nossos desejos.

8 – Não precisamos esperar a nossa vida chegar ao fim para reconhecer todas as coisas boas que nos acontecem. Sejamos gratos! A vida é breve e devemos aproveitar as oportunidades que surgem a cada novo dia.

9 – Às vezes, muitas vezes, a ignorância é uma benção. Em algumas situações é melhor não saber de certas coisas.

10 – Sempre precisamos colocar todas as coisas em seu devido lugar. As coisas, os pensamentos, os sentimentos e as pessoas.

11 – Às vezes um pedido de desculpa é o suficiente.

12 – Um dia a mudança irá bater na sua porta e esteja preparado para atendê-la.

13 – Não adianta nos precipitarmos. Tudo tem a sua devida hora.

14 – Pode existir uma diferença enorme entre aquilo que você disse e aquilo que foi entendido. E o óbvio nem sempre é óbvio.

15 – O presente é o maior presente que o presente nos dá: a possibilidade de viver a cada dia.

16 – Devemos entender que temos o nosso próprio tempo para viver e para lidar com as coisas, pessoas e situações.

17 – Aprendemos que podemos estar sozinhos e estarmos juntos, e estarmos juntos e ainda assim nos sentirmos sozinhos.

18 – O nosso aniversário só será feliz se assim desejarmos.

19 – Saber que nada nos pertence e nunca nos pertencerá, não nos impede de sentir falta, de sentir saudade.


20 – E, por fim, que o ano só será novo se quisermos.




sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Do que você é feito?




Do que você é feito?

Já diria Shakespeare que “somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos.” E você, é feito de quê?

Acredito que somos feitos de várias coisas, coisas que passaram por nós e de alguma forma nos habita. Na nossa composição tem o cheirinho da casa da avó, também tem aquele sorriso do bebê no colo da mãe que passou naquela rua logo ali. Tem um pouco de cada pessoa que passou na nossa vida, um pouco do conhecimento, da experiência, da alegria ou da tristeza dessas pessoas.

Em nós também habitam os costumes da nossa família, da nossa cultura, do nosso mundo, de todos aqueles que amamos e também daqueles que não gostamos. Um pouco de tudo e de todos que passaram por nós, nos habita.

Agora imagine a nossa presunção em pensar naquela contribuição dos nossos amigos, da nossa família que faz parte da nossa composição. Quantos pronomes possessivos! Quanta presunção! Como se de fato algo realmente nos pertencesse!

Simplesmente roubamos (pegamos ou capturamos, se você preferir) parte dos outros para nós mesmos. Enquanto isso, diversas pessoas simplesmente se doam, compartilhando e contribuindo com aquilo que elas têm de melhor para nos oferecer e precisamos ser espertos para capturar essas pequenas maravilhosas coisas.

Você já parou para pensar qual parte das pessoas que você ama habita em você? A bondade que aquele seu amigo tem ou a coragem que a sua prima sempre mostra em várias situações?

Qual parte de mim habita em você?



E afinal, do que você é feito?


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Ano novo é placebo


Sim, isso mesmo que você leu ali em cima! A atual ideia de ano novo é culturalmente questionável. As pessoas ficam ansiosas, fazem planos e definem metas. Compram roupas novas para a “virada do ano”, fazem simpatias e comemoram!


“Ano novo” na verdade é apenas mais uma passagem de um dia para outro. Assim como se passa do “dia 24” ao dia “25”. Não há, necessariamente, motivos para celebrar a mudança de uma folha do calendário, como se magicamente tudo fosse mudar e de repente você se tornasse capaz de realizar todos os seus sonhos, que aliás, você teve a oportunidade de concretizá-los no ano anterior, mas não o fez.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A falta que a falta faz



Era segunda-feira à noite, eu encarava o céu estrelado e sabia que ele, do outro lado, encarava esse mesmo céu. Não me preocupava mais com a distância física que insistia em existir. Minha maior preocupação sempre fora com aquela distância que a gente cria, pois essa é mais difícil de ser superada. Quantos vivem tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe? E quantos vivem tão longe, mas tão próximos? É difícil se encontrar nessa balança.

Não me atrevo a contar meias verdades (se é que isso existe) dizendo que não me importo de forma alguma com a distância física, pois me importo sim. É só que depois de um tempo passamos a balancear mais as coisas, verificando o que tem mais importância e com o que deveríamos nos importar menos.
Acabei aprendendo (não tão facilmente) a lidar com uma série de coisas, inclusive com a própria distância, mas mesmo estando preparados para algo, ainda há a chance de sermos pegos de surpresa.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Não se entristeça!


domingo, 11 de dezembro de 2016

Rascunhos #1


"Feliz quem voltasse a ser criança!" O homem simpático, mas sentimental, que entoa a canção do menino ditoso, desejaria também voltar à Natureza, à inocência, ao princípio, mas esqueceu que nem mesmo as crianças são felizes, e sim suscetíveis de muitos conflitos, de muitas desarmonias, de todos os sofrimentos.

Para trás, não conduz a nenhum caminho, nem para o lobo nem para a criança. No princípio das coisas não há simplicidade nem inocência; tudo o que foi criado até o que parece mais simples, é já culpável, já complexo, foi lançado ao sujo torvelinho do desenvolvimento e já não pode, não poderá nunca mais, nadar contra a corrente.
O lobo da Estepe - Hermann Hesse


Então, a verdade é que tenho medo de escrever porque tenho medo de escrever besteira. Aprendi a prezar a coerência do que penso e colocar tudo em palavras  é um desafio novo para mim. Primeiro por causa das limitações da linguagem e comunicação - assunto para outra hora -, segundo porque sinto uma necessidade, que na verdade é uma obrigação: fundamentar tudo que eu escrevo. Ter uma opinião ou achar alguma coisa nada significa. É dezembro de 2016 e temos milênios de contribuição humana para eu vir divagar sobre um assunto qualquer sem o mínimo de respeito pelo que outras pessoas já refletiram e escreveram. É uma consciência de que problemas que me vem a mente já podem ter sido resolvidos há séculos e seria uma negligência não considerar essa possibilidade. Então  resolvi escrever sem pensar muito, primeiramente como um rascunho e fundamentarei depois, caso isso seja possível, é claro...

Acho que me ocorreu uma epifania agora pouco.  Não sei se é essa a palavra, mas eu poderia chamá-la de insight também. Tem a ver um pouco com a inquietação intelectual, essa fermentação constante de idéias na minha cabeça. Mas indo ao ponto que me trouxe aqui: a palavra chave é resiliência. Não tanto sob o aspecto de "resistência" que ela traz (aqui estou divagando novamente sobre a limitação da linguagem), mas mais sobre o sentido de adaptação.  Não quero expor o fato ocorrido, o negócio é que  a resiliência trouxe consigo a reflexão sobre a maioridade e falarei dela primeiro. Não a maioridade penal, mas aquela mesma maioridade que fala Immanuel  Kant.

Diferente da maioridade penal, para Kant alguém deixar de ser criança, deixa a menoridade, quando ela passa a ter capacidade de usar seu próprio entendimento, a servir de si próprio  sem a tutela de outra pessoa. É sobre tomar coragem, consciência da responsabilidade pela sua própria vida e do seu destino. É saber que o final da vida, como ela vai terminar,  é uma responsabilidade individual (estou misturando um pouco de Sartre aqui também).  Isso é um marcador que diferencia as pessoas: aquelas que tem consciência da diferença entre existir e viver e aquelas que ficam a mercê dos estímulos externos e internos, existindo no modo automático  e mal conseguem ver um passo a frente.

Não posso deixar de falar, portanto,  como é bonito ver alguém atingir a maioridade - eu diria que fico um pouco triste também, talvez entendam por quê. Se nascemos sob dezenas de determinadas condições, seja o idioma, a condição financeira, a família , o país, a cultura etc., quando alguém toma a postura adulta de encarar que condição é algo intrínseco a existência e que o que vem depois, isto é, as escolhas, são o que determinam o porvir, essa pessoa merece o mínimo de admiração - ainda mais visto a degradação cultural e intelectual dos nossos dias.

Mas a maioridade traz consigo um desafio (é um eufemismo para o que eu queria chamar de maldição, seria isso um exagero meu?). A gente acaba se deparando com algumas perguntas: como  "qual é o sentido da vida?", ou "para que estamos aqui?", e ainda, "para onde ir"? E não, não conheço ninguém que tenha as respostas... Além disso vem aquele ceticismo icônico, senão a necessidade da prova para se crer em algo, uma fundamentação lógica ao menos. Pense bem, são as crianças que acreditam em fadas e coisas do gênero...

E lembrar dia após dia dessa responsabilidade, ter consigo os olhos abertos para as consequências de cada atitude tomada soa às vezes motivador, "eu faço meu próprio destino"; mas muitas delas é um fardo para se carregar, "se eu fizer merda, vai dar merda". Quem foi que disse mesmo?: "A ignorância é uma benção."

Só que não era para parecer uma lamentação, acredite. É justamente agora que entra a questão da resiliência: a capacidade de  superar os momentos difíceis, a capacidade de continuar. Li uma vez que a resiliência seria uma espécie de inteligência, mas agora arrisco a dizer que é bem mais que isso. É uma virtude.

A questão é que como não temos um manual pronto sobre como viver, sobre o que é certo ou errado, é totalmente justificável e legítimo que erremos na nossa jornada - construir uma moralidade pessoal é uma arte. Digo errar no sentido de fazer escolhas erradas: escolher a profissão errada, a amizade errada, a ideologia errada, a expectativa errada,  falar no momento errado... o gosto é  o do freguês aqui. E a resiliência é o que nos permite ir adiante apesar de toda conseqüência possível.

Dessa forma, que a gente permita se perdoar pelas escolhas erradas. Que a gente possa ter em nossa consciência a racionalidade para tomar decisões: quando as circunstâncias mostrarem que é hora de ir ou deixar ir, que possamos ir ou deixar ir. Quando as circunstâncias mostrarem que devemos ficar, que nós fiquemos. Ainda assim, não estaremos livres do erro. E se ele ocorrer, que  a gente possa ser resiliente e lembrar que estamos todos no mesmo barco e que o Sol voltará amanhã, para um novo começo.

Obs.: Claro que muitas das dificuldades que passamos não é culpa nossa e a resiliência tem também um papel fundamental na superação delas, mas o foco aqui é justamente todas as consequências que ocorrem por nossas ações mesmo.




Por H. Haller.



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

19 de novembro



Mais um dia em novembro surgia e o sol se cobria com nuvens que anunciavam chuva. Como é de se esperar, não se pode esperar aquilo que se espera. Traduzindo: não crie expectativas. Naquele momento eu já não tinha nenhuma e um peso me era tirado das costas. Como é bom ser livre por não carregar na mente aquilo que você espera dos outros! Isso te poupa muito trabalho e um bocado de frustração.

Por muito tempo ignorei o significado daquele dia, esse mesmo que surgiu com o sol coberto por nuvens. Ignorei até perceber que não se pode ignorar um elefante pintado de amarelo com bolinhas pretas. Quanto mais esforço fazemos para ignorar ou esquecer algo, maior é a energia e o pensamento que estamos transferindo a isso. Então caímos em um paradoxo. Para ignorar algo, eu penso que devo ignorar, se penso que devo ignorar algo, estou pensando nesse algo que deve ser ignorado. Confuso? Na prática é mais simples e também mais complexo ainda.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Reescrever






Escrever nem sempre é fácil, reescrever muito menos, principalmente quando o que estava escrito parece fazer todo o sentido do mundo e não parece existir quaisquer outras palavras que possam substituir aquilo que ali já está.

Assim também é a vida. Escrever o nosso caminho é um processo árduo e muito difícil no começo. Quando nos acontece algo que porventura nos desorganiza, inicialmente nos parece ser quase impossível reescrever a nossa história a partir daquele ponto. Tudo que antes fazia sentido foi desconstruído e não parece haver nada mais satisfatório para colocar no lugar.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Tempo tempo tempo



Tempo. Se você pesquisar a respeito verá que existem vários possíveis significados para essa palavra. "Medida de duração; época; ocasião". As variáveis são imensas e isso não facilita o entendimento que podemos ter a respeito do tempo.

Também é possível ouvir várias coisas a respeito dele. Tais como: "não tenho tempo" ou "o tempo passa rápido". Todas essas coisas são interpretações. Como quando o tempo parece passar mais rápido quando estamos nos divertindo e mais devagar quando não estamos. Como quando o tempo parece parar quando estamos ansiosos para que algo aconteça ou quando parece que passou tão rápido, depois que esse "algo" aconteceu. Alguns vendem seu tempo, outros pagariam o preço que fosse para obter um pouco mais. Há momentos em que simplesmente queremos parar o tempo, mas também há outros em que queremos que passe tão rápido que não seja possível dizer ao menos que passou.


Tempo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O presente que o presente nos dá



Várias vezes nos pegamos olhando para passado e para o futuro, mas não para o presente que está diante de nossos olhos.

Olhamos para trás, quase sempre para relembrar antigas dores e sentimos angústia. Olhamos para frente, quase sempre tentando imaginar o que nos aguarda e nos sentimos ansiosos. Nessas situações temos sentimentos decorridos de coisas que já se passaram ou coisas que ainda nem ocorreram e sofremos de novo ou sofremos por antecipação.

Não devemos, claro, subestimar a importância que esse tipo de olhar pode ter, mas não devemos jamais deixar que nossa atenção seja dirigida apenas a esse tipo de coisa. Olhar para trás pode ser importante para perceber o quanto mudamos em tão pouco tempo, relembrar erros que não queremos cometer novamente e até mesmo nos deliciar com boas memórias que sempre nos fazem rir e nos aquecem o coração.

Olhar para frente pode nos ajudar no planejamento e na organização da nossa vida hoje, para que possamos encaminhar (ou tentar encaminhar) nossa vida na direção do caminho que queremos percorrer. Entretanto, olhar constantemente para frente pode causar também alguns efeitos colaterais, principalmente a ansiedade e até mesmo a frustração.

O olhar que não deve jamais ser ignorado é o olhar do presente, pois é somente no presente que vamos nos constituindo e mudando o ambiente a nossa volta. A cada novo dia novas versões de nós mesmos são produzidas e escolhemos aquilo que ainda precisa ser aperfeiçoado. O presente, mais que fruto do passado, é a construção do futuro. O que existe é o agora, o presente. O instante no qual você começou a ler esse texto não existe mais, o que existe é esse instante, esse mesmo em que você está lendo agora e só existirá enquanto você continuar lendo. Em seguida novos instantes virão. O presente nunca pára.



Uma possível forma de lidar com nossas constantes visões do passado e do futuro seria viver o presente. Lembrar que o presente não tem esse nome à toa e que a vida é uma dádiva. Cabe somente a nós decidirmos se vamos aproveitar ou não o presente que o presente nos dá a todo momento: a oportunidade de viver.

sexta-feira, 11 de março de 2016

O agora que virá



Na noite quente, a brisa é um presente e enquanto ela toca minha pele, meus pensamentos vão para longe. Viajam no espaço e no tempo, vou para outros lugares e em outros momentos. Momentos que ainda não aconteceram... Como é gostoso e ao mesmo tempo doloroso imaginar o "futuro"! Aqui me refiro ao futuro como o agora que virá e isso inevitavelmente está repleto de desejos, vontades, anseios e receios.

Como curioso e medonho seria se pudéssemos ter apenas um vislumbre desse agora que ainda está para chegar! Mas tudo é constante e inconstante, de forma que tudo muda enquanto eu falo. Tudo isso causa uma sensação de incerteza e talvez de insegurança. Se tudo oscila, que garantia temos que alcançaremos aqueles sonhados objetivos? E mais: e quando esses objetivos dependem de outros fatores e até mesmo de outras pessoas? A nossa liberdade termina onde começa a liberdade alheia (ou ao menos em teoria porque sabemos que na realidade nem sempre é assim).

E então deixo de pensar no futuro e me pego pensando em todas as implicações para a realização ou a não realização de meus objetivos. Apesar de pregarmos a individualidade e autonomia, somos seres dependentes e completamente interligados uns aos outros. Que responsabilidade tem o outro na concretização de meus desejos? Reformulando: que responsabilidade atribuo ao outro para realização de meus desejos?

(...)

quarta-feira, 2 de março de 2016

O sol da manhã...


O sol da manhã atravessou minha janela e incidiu sobre minha pele dourada, a aquecendo. O mundo gritava e voz alguma saia da minha boca. O ar entrava e saia de meus pulmões e percebi o quanto somos invadidos! Quanta coisa passa pela gente, quanta coisa habita o nosso ser! E quanta coisa deixamos ir... No hoje há vestígios do que passou e ficou, do que passou e se foi. Os olhos mais treinados vêem rastros e pistas em todo lugar. Somos labirintos, mapas, prontos para serem desvendados, analisados. Mas temos medo. Tudo isso é muito invasivo.



Olhando pela janela, vi um pássaro sem nome, sem voz, sem rosto. Quantos querem ser pássaros! E quantos desses tem medo da altura? E desses ainda, quantos tem medo da queda? Nunca quis ser pássaro. Já quis ser estrela e ser peixe. Ser peixe para nadar na imensidão do mar e navegar pelo segundo céu, refletido naquelas águas.  Às vezes queremos ser tanta coisa, ter tanta coisa, que nos esquecemos de quem realmente somos e do que realmente temos. Sou eu mesma e tenho a mim mesma. E o que muitos acham aterrorizante nisso tudo, é que não somos produtos feitos, tudo pode mudar, a qualquer hora. Isso é assustador, porque pode-se esperar qualquer coisa e o que não conhecemos nos assusta. Em contrapartida ainda assim as pessoas preferem viver no medo, no não-conhecimento, porque a ignorância grita por aí ser uma bênção. Abençoado seja! O mundo está cheio de bênçãos! 


E nada disso importa ao raio de sol que toca a minha pela dourada, ou ao céu que irradia sua grandeza lá em cima, ou a estrela magnífica na noite estrelada, ou ao peixe que eu tanto quis ser.