Me lembro bem daquele dia...
Estava ofuscado pela luz do sol que arranhava as
folhas das árvores, naquele ponto de ônibus. Por algum motivo qualquer o ônibus
que eu esperava demorou mais que de costume. Me estressei um pouco, mas logo
passou, quando um senhor de seus oitenta e tantos anos e cabelo grisalho me
encarou rapidamente com os olhos do século passado. Me peguei sorrindo.
Lá estava ele, o ônibus, nem cheio nem vazio, apenas
ele mesmo. Não sei porque, mas senti um mal-estar. Acreditei ser um
pré-sentimento, mas talvez fosse apenas o calor.... Poupar-te-ei das reflexões feitas ao longo do caminho
naquele transporte público. Enfim, depois de muito sacolejar, o ônibus
finalmente me deixou no meu destino.
Entrei na biblioteca e o sininho preso à porta
denunciou a minha chegada. Inevitavelmente cumprimentei a moça de cabelos
loiros e desgrenhados da recepção, que se autodenominava bibliotecária. Não me lembro do nome dela. Era um nome comum, apesar
de ser próprio, isso era certo. Acho que ela me convidou para sair. É certo que
nos conhecíamos há dois anos, tempo em que frequento a biblioteca, mas só. Ela
nunca passou da moça de cabelos loiros e desgrenhados da recepção que se
autodenominava bibliotecária.
Recusei cordialmente o pedido, alegando ter que
preparar as aulas dos meus alunos. Ela apenas corou levemente ou então estava
gripada. No fim, não importa os meios.
Eu tinha um motivo para ir lá sempre, motivo esse que
não era só o grande e maravilhoso acervo de livros. O meu motivo vinha às
terças.