quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O Nome do vento



Sinopse - O Nome do Vento - A Crônica do Matador do Rei - Primeiro Dia - Patrick Rothfuss

Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.

Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.

Te cala(m)


Sorriso que morre
De um olhar, divino olhar
Frio como o sangue que corre
Porque não pode se esquentar

Em mim nascia a vontade
Silenciosa e imutável
Vigorosa naquela tempestade
Em que a raiva era indispensável

E depois do sol, vem a tristeza
Minha amiga, clareza
Que nunca se cansa de escutar

O que dizem aqueles que não sabem falar
Cala-te desejo insano
Não és dono de mim, tampouco és santo

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Silêncio





Mais uma manhã fria surgia, mas não era tão fria quanto o meu coração. Coração esse que estava cheio de pesares e apesares, que por sua vez não era tão frio quanto palavras inesperadas, que queimam mais do que o fogo.

O céu que agora está claro, já esteve nublado, e não pude distinguir seus significados. Outrora minha mente estava clara, agora jaz nublada, diante da falta de perspectiva do momento seguinte, da palavra seguinte.

A espera do sol não é mais dolorosa do que a espera do som, onde reina o silêncio puro. Puro, branco e frio, como o gelo.

Se ao menos eu pudesse quebrar esse silêncio... aspirar o ar com meus pulmões, o aquecer, fazer vibrar a minha corda vocal...

É em vão.

Não se pode quebrar uma muralha com um sopro. Não se pode vencer a pedra com o ar. Nem quebrar o silêncio com uma palavra.

Palavras frias e inesperadas que queimam mais do que o fogo. Que são mais frias que o meu coração, que é mais frio que essa manhã. Manhã sem nuvens e sem dúvidas.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Lugar

Acordei naquela manhã com uma breve sensação de que aquele dia não seria um bom dia. Quais dias são bons dias?
É impossível ser sem estar. Feliz ou infelizmente é assim que as coisas funcionam. Eu sou alguém, logo, inevitavelmente, se existo, existo em algum lugar. Infelizmente não podemos escolher sempre os lugares que queremos estar.
Aquele dia não seria um bom dia (como os outros) porque ao acordar sabia onde deveria estar às 9h. Trabalho. Você não vive sem ele e ele não vive sem você. Você vive pra trabalhar e trabalha para viver, quem inventou isso eu não sei, mas é o que vale nos dias de hoje.
Desculpe o palavreado, é que quando vivemos e passamos por muitas coisas e presenciamos vários estágios e reações do ser humano, passamos a gostar menos das pessoas, logo, nos tornamos pessoas estressadas e antissociais, para evitar todos os contatos possíveis, menos os inevitáveis, claro, porque são inevitáveis.
Quando nos levantamos da cama, nos jogamos a uma série de coisas que podem ou não acontecer e isso é tão assustador, que nunca, nunquinha dá vontade de largá-la (a cama). Tudo isso faz parte da vida, ou pelo menos é o que falam. Quando nos levantamos da cama, arcamos com tudo o que pode acontecer fora dela, por mais assustador que isso possa parecer.
Além do trabalho, existem outros lugares, como casa, escola, parques, shoppings, ruas, esquinas, e lugar algum.
Mas mesmo com tantos lugares ainda é possível sentir como se não houvesse um lugar. O seu lugar. Essa é uma sensação horrível. É quando percebo que moro dentro de uma bola gigante, cheia de água que flutua no universo, na imensidão do universo e me sinto pequeno e sem lugar.
Gosto muito do canto onde se encontram o chão e a parede do meu quarto. O piso é frio e lá bate uma corrente gelada que passa pela janela, que sempre deixo aberta, porque adoro sofrer com as mudanças bruscas do tempo.
Lá é um bom lugar, esse cantinho do meu quarto. Mas quando alguém coloca alguma coisa ali, como uma estante ou mesinha, me sinto sem lugar de novo. Por que as pessoas tem mania de mudar os móveis de lugar?
No fim, mesmo tendo tantos lugares e tantas pessoas, não tenho lugar nenhum e tenho só a mim. Confesso que às vezes me iludi, achando que tinha alguém, algumas pessoas, mas pessoas são pessoas e sempre vão ser pessoas, porque é isso o que elas são. E eu também.
Já me disseram para procurar esse tal lugar dentro de mim, mas dentro de mim há certa bagunça organizada, que deixa meus pensamentos numa ordem que só eu entendo. Não quero mudar isso, mudar as coisas de lugar. Tenho medo de não achar onde deixei meu pensamento de terça à noite. Isso seria como o indício do Apocalipse.
Por isso todos os dias não são bons dias. Pois sou um penetra, que vive com pessoas em lugares que nunca serão, nunca serão...
O meu lugar.

O Cello


Música, música profana
Invade os ouvidos da dama
E jorravam notas de mim
E eu nunca vi coisa assim

Tocava cello com a alma
Dedilhava com muita calma
A todos ela encantava
Gritavam brava, brava, brava

Ela estudava a clava
Tocava as notas da oitava
E a noite toda tocou

E o doce gosto provou
Das notas bem tocadas
E o sabor de quem amou

Dor


Não existe essa de dor
É só ilusão, sensação, calor
Também é frio, muito frio
E dói cada arrepio

É na cabeça e na barriga
Tão chata quanto intriga
Mas se não cuidar dela, amigo
Não existirá nem abrigo

Que possa afugentar a danada
E começa, sem fim, a caçada
Mas não existe dor pior

Que a (r) d o r do coração
Essa custa a passar
Quer se importe ou não

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Dormi


O vento frio entrava pela janela do quarto, bem debaixo do meu cobertor e fazia percorrer pelo meu corpo um arrepio, de frio, sozinho. Eu perdia tempo, tentando ter tempo pra fazer a única coisa que me importava naquele tempo. A luz da lua iluminava meu quarto, uma luz triste e melancólica, que me trazia lembranças de um tempo que acabara de passar. Um tempo feliz e só meu.

Dormi.

Sonhei que ia à casa dele, olhava para aqueles olhos e sentia aqueles braços num abraço sem fim. Conversávamos sobre várias coisas, ríamos juntos, dançávamos e nos beijávamos. E aquilo era tudo, porque não havia nada além daquilo e sabíamos que nunca haveria.

Acordei.

Na verdade nem tinha dormido. Outra luz agora iluminava meu quarto. Uma luz meio amarelada. O sol? Sim, o sol. A espera se tornou  minha maior angústia. É como se toda a minha vida eu tivesse passado incompleta e de repente, alguém me completou, perfeitamente. E de repente, cá estou. Sentindo falta dessa parte.

Quando dei por mim, estava na escrivaninha, escrevendo algo. Uma carta, talvez. Prometi a mim mesma que enviaria essa carta assim que possível. As palavras que estavam escritas nela eram tão urgentes quanto meus sentimentos.

Enviei a carta. As pessoas na rua me pareciam tão estranhas, tudo era tão cinza. O ar era quase sólido e mesmo no verão eu sentia frio. Me vi novamente em casa. Todos os cômodos vazios. O vento assobiava uma canção de desespero e de coleguismo. Como se ele soubesse como é percorrer todas as ruas, todos os lugares em busca daquilo que se quer encontrar e a única coisa que conseguisse fosse um assobio.

Cantei e falei. Pedi ao vento que levasse minhas palavras a pessoa que tanto amo. Na verdade, a pessoa que mais amo. Fiquei esperando resposta. O vento soprou forte, batendo as janelas violentamente. Talvez ele tivesse me escutado, e se eu tivesse muita sorte, talvez, só talvez, ele também estaria sentido minha falta. E gritando aos ventos pelo meu nome.

Se assim fosse, nossas palavras se encontrariam no meio do caminho e se contemplariam, aproveitando a presença uma da outra, enquanto palavra, enquanto parte de mim, parte dele.

Voltei para o meu quarto.

O vento frio entrava pela janela do quarto, bem debaixo do meu cobertor e fazia percorrer pelo meu corpo um arrepio, de frio, sozinho. Eu perdia tempo, tentando ter tempo pra fazer a única coisa que me importava naquele tempo. A luz da lua iluminava meu quarto, uma luz triste e melancólica, que me trazia lembranças de um tempo que acabara de passar. Um tempo feliz e só meu.

Dormi.


Em branco

Abri a porta e me sentei na minha escrivaninha. Estava cheia de papéis, textos, canetas, embalagens vazias. Arredei tudo para os lados, peguei uma folha em branco e uma caneta preta, não por ter preferência pela cor, mas simplesmente porque foi a primeira caneta que correu para minha mão. Pensei em começar a escrever. Mas escrever o quê? Todos os dias nascem escritores, bons e ruins, e todos eles escrevem sobre qualquer tipo de assunto que alguém poderia imaginar. Sobre a vida, sobre a morte, sobre o dia, sobre a noite, a lua, o sol, as estrelas. Sobre política, história, ficção, ciência, literatura. Sobre astrologia, astronomia, comida, tecnologia...

O que eu poderia escrever? Dentre todas essas coisas, nenhuma parecia brilhar aos meus olhos. Nenhuma parecia gritar aos meus ouvidos, me seduzindo e induzindo. Eu tinha o controle. Tinha o papel (em branco) e a caneta (preta). Resolvi que não queria o papel, nem a caneta. Não queria escrever um texto, queria escrever um livro.

Trabalhei dias sem parar, fiquei semanas sem dormir direito, mas trabalhei duro para conseguir terminar o livro no prazo que eu mesma estipulei.


Terminei o livro, minhas mãos estavam suando, eu estava nervosa, meu coração acelerado. Quis criar algo diferente, mas comum. Algo que fosse apaixonar e se deixar apaixonar pelos leitores. Algo muito particular, muito próprio.

Meu livro foi publicado, estava em todas as livrarias do país, todos estavam comprando meus livros. Fizeram resenhas maravilhosas, críticas superinteressantes, todos os leitores ficaram fascinados.

Então, a primeira pessoa que comprou o primeiro livro, o abriu e se surpreendeu.

Ele estava em branco.

(...)

Foi um fiasco. As pessoas pegaram seus dinheiros de volta, me processaram.

Nenhuma delas entendeu o que aquilo significava. Nenhuma delas conseguiu ler a ausência de palavras e tudo que aquilo poderia vir a ser um dia. A própria história de cada um deles. Ou uma história sobre a lua, o mar, as estrelas, sobre ciência, tecnologia, ficção, astronomia.

Para isso, bastava uma caneta (preta).