domingo, 15 de maio de 2016

Sinto muito!



"Sinto muito. Sinto mesmo!"

Aquela caligrafia bonita, impressa em folha branca, o encarava persistentemente. Como pequenas palavras poderiam guardar tanto significado? Esse é o tipo daquelas perguntas que todos querem saber, mas não fazem ideia da resposta.

Paulo fingia andar despretensiosamente pela sala, mas na verdade aquelas palavras alfinetavam o seu cérebro.
Quão grande pode ser o abismo entre o que é dito e o que é entendido? Ou será que esses pensamentos estavam servindo apenas para aliviar o temor de realmente saber o que tudo aquilo significava?




Seja como for, enquanto não falasse com a pessoa responsável por aquela escrita, ficaria nadando em um mar de hipóteses em que a certeza é um monstro mitológico que, apesar de não ter confirmação sobre sua existência, é mortalmente temido. Enquanto Paulo dava voltas e voltas em sua sala, seu coração palpitava, coitado! O coração, alvo de tantas injúrias, nada mais fazia que o seu próprio trabalho, mas não parecia ser o suficiente.

Nessa caminhada toda, Paulo de repente notou que a noite caiu, mesmo sem entender ao certo esse tipo de expressão e ignorando isso e outras coisas, foi para a varanda, esticou o pescoço e encarou o céu. Nesse céu, Júpiter estava alinhado com a Lua e tudo estava bastante estrelado e iluminado. Como existiam tantas coisas! Há toda uma existência além de nós e muitas vezes o nosso interior nos preenche tanto e toma tanta conta da gente, que não percebemos toda a vida e todos os acontecimentos que nos cercam. As nossas alegrias e sofrimentos parecem ser sempre tão importantes! 

Observando o céu e toda aquela imensidão, Paulo se sentiu pequeno e percebeu que há tanta coisa sendo vivida e há tanto para se viver! E ele ali preocupado porque aparentemente iria viver sozinho dali pra frente. Dando um grande suspiro, se lembrou das palavras... "Sinto muito. Sinto mesmo!" E de repente tudo pareceu tomar uma nova perspectiva!

- Eu sinto muito! Sinto mesmo! - disse Paulo a Júpiter - Eu sinto tantas coisas! Tantos sentem tanto! Não poderia ser diferente! - dizendo isso ele voltou para a sala, releu aquele papel que estava em cima da mesa e depois de emitir um sorriso de entendimento, resolveu fazer mágica! A magia da ação! Pegou seu telefone e fez uma ligação

- Alô?! - a outra voz respondeu.

- Eu também sinto muito! Sinto mesmo!

Apesar de não se verem, ambos sabiam que os rostos emitiam sorrisos, pois a voz era delatora e denunciava aquilo. Durante a conversa, Júpiter continuava seu movimento, assim como a Lua... assim como a vida.




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