Aquele dia amanheceu frio. O vento gélido balançava impiedosamente os cabelos de Ana, enquanto ela se perguntava porque não podia balançar impiedosamente o vento de volta. Após rir desse pensamento estúpido, ela se perdeu em pensamentos mais profundos e mais antigos.
Então se viu criança, com
um vestido amarelo e com bolinhas, correndo livremente em campo verde. Ela
sentiu o calor da infância e sorriu. Como tudo era belo e medonho! Voltou ao
seu tempo e viu como tudo ainda continuava da mesma forma. Apesar de ter se
tornado adulta, ainda se sentia às vezes com uma sensação de impotência e de
inocência em relação ao mundo e as pessoas.
Era 1º de setembro, a
primavera estava por aí e seu aniversário de 26 anos também. Esse ano ela iria
passar o aniversário dela de outra forma, apenas com ela mesma. Nada de
ligações, e-mails, recados, rede sociais. Apenas ela e o belo campo que havia
perto da sua casa.
Logo nas primeiras horas
da manhã Ana foi ao campo. Ela usava aquele vestido azul que todos adoravam e
estava radiante.
Depois de caminhar um
pouco, ela se sentou embaixo de uma árvore e pouco tempo depois uma criança se
sentou ao lado dela.
- Qual o seu nome?
- Meu nome é Jim e o seu?
- O meu é Ana.
- Hmm, minha mãe se chama
Ana. Ana, por que você está tão feliz?
- Porque hoje é o meu
aniversário e por que você está tão triste?
- Porque hoje descobri que
vou morrer.
- Você vai morrer? – Ana
ficou surpresa com aquela afirmação.
- Sim, você não? Todos
morrem. Fiquei sabendo disso hoje. – disse o menino com simplicidade.
- Ah... entendi o que você
quis dizer. Sim, todos morrerão um dia, mais cedo ou mais tarde. Ficou muito
triste ao descobrir que um dia vai morrer?
- Na verdade estou mais
triste por saber que o meu cachorro Thor um dia vai morrer. Ele é um amigão. Um
dia eu pedi para ele comer meu dever de casa e ele comeu! Foi maravilhoso! Ele
sempre me ajuda na hora que eu mais preciso. Quero que ele viva pra sempre!
- Quem dera se todos
aqueles que amamos vivessem para sempre...
- Ouvi dizer que é a ordem
natural da vida – disse Jim – a gente nasce, cresce, tem filhos e morre. Eu
estou na parte do crescer. Pensando bem, se eu não tiver filhos talvez eu viva
pra sempre!
- Não acho que seja assim
que funcione, Jim.
- Que pena... pelo menos
consigo pensar em alguma coisa boa com tudo isso. Quando a gente morre não tem
que ir à escola, nem arrumar a nossa cama mais. Agora vou brincar já que na
morte não tem brincadeiras. Tchau, Ana!
Aquela conversa inocente e
sem compromisso abalou muito os pensamentos de Ana. Por mais que Jim tivesse
ficado surpreso com a notícia – de que todos mais cedo ou mais tarde morrem –
ele encarou isso com naturalidade e deu seguimento em sua vida agitada e cheia
de brincadeiras e descobertas.
Como as crianças entendem
tão bem as coisas! Como os adultos as complicam!
Voltando para casa, Ana se
deparou com o silêncio e a calmaria que a sua vida solitária a proporcionava. O
silêncio costuma ser incômodo porque causa introspecção. Muitos tem medo do que
podem ver! Resolvendo tentar deixar de lado essa introspecção, pegou um livro
para se distrair, mas a primeira frase que leu a levou novamente para uma reflexão
anterior. A frase era algo aproximadamente como: “eles são imortais porque não
conhecem a morte”. Essa frase foi um gatilho para voltar a refletir.
O nosso mundo é do tamanho do nosso conhecimento. Como você pode temer algo que
não conhece ou que não existe? Como discutir a existência de algo se o próprio
questionamento da existência presume a existência? Não se pode falar sobre o
que não existe, porque não existe. Simples.
A morte já existia para
Ana. Elas não eram íntimas, mas também não eram totalmente estranhas. A morte é
o tipo de visita que vem sem avisar e nunca entendemos ao certo o critério que
ela utiliza para levar seus convidados. Tudo soa como injustiça! Coitada da
morte e da natureza, que ao manter um aparente equilíbrio no sistema, muitas vezes
se tornam vítimas de injúrias e são culpadas por crimes que não cometeram!
Mas que pensamentos logo
no dia em que se comemora aniversário! Geralmente quando somos novos
comemoramos a vida e quando somos velhos, contamos o tempo para a morte. Cada novo
ano de vida é um ano mais próximo da morte.
Ana foi dormir com aqueles
pensamentos e então teve um sonho. Sonhou novamente que era criança e como no
sonho anterior, estava no parque, mas estava triste porque seu pássaro havia
morrido. Ana beijou o pássaro com lágrimas nos olhos e aguardou um milagre
acontecer, mas não aconteceu. Na verdade o milagre que ela esperava era o da
vida, ignorando que a morte também pode ser considerada um milagre, a partir de
certa perspectiva. Ignorando tudo isso, enterrou seu pássaro e em seguida voou
para longe, mas de repente começou a cair e quando ia atingir o chão, acordou.
Tudo isso a fez perceber uma
série de coisas, como por exemplo que o que separa a vida da morte é apenas um
segundo, um momento. E que talvez, como no sonho, tenha passado perto da morte
mais vezes do que imagina e que talvez, apenas talvez, comemorar o aniversário
não fosse uma má ideia como ela pensava. Afinal, era mais um ano que ela passou
pela morte e a ignorou.
Olá, Clara!!
ResponderExcluirQue lindo texto! Sensível, tocante, verdadeiro. Parabéns pelo seu talento e pelo seu modo de ver a vida, a felicidade realmente mora nas coisas mais simples, nós que as vezes complicamos tudo... nada como olhar o mundo através dos olhos de uma criança para encararmos a vida com mais leveza! Continue sempre escrevendo.
Tenha um ótimo dia ^-^
Um beijo!
Débora
http://amorlivronico.blogspot.com.br/
Oi, Débora! Muito obrigada! Realmente! Precisamos aprender a olhar a beleza nas coisas simples e passar a nos preocupar com o presente!
ResponderExcluirUm abraço!
Clara
Olá, que texto lindo. Me fez pensar na delicadeza das coisas e como os detalhes fazem a diferença. Temos que aproveitar cada momento do nosso dia e viver mais, amar mais!
ResponderExcluirExatamente!!!
ExcluirOlá Débora! Adoro os seus textos, você escreve muito bem, adoro principalmente as mensagens que você passa através dos textos.
ResponderExcluirBeijos
Obrigada, Karla!
ExcluirOi, tudo bem com você?
ResponderExcluirPrimeiramente, Fora Temer hahahaha
O que eu queria dizer mesmo é que você escreve muito bem, adorei toda essa reflexão que você fez para mostrar a importância dos pequenos detalhes, e que sempre devemos aproveitar cada momento de nossas vidas!
Bjs e sucesso com o blog!
https://escritorawhovian.blogspot.com.br/
hahahaha obrigada, Bruna!!!
ExcluirOi, lindona!
ResponderExcluirQue texto lindo, mágico, você foi incrível em cada palavra e concordo totalmente com tudo o que disse, dar valor nas coisas simples e em cada momento é indispensável.
Beijos ♥
Caroline Leal
www.mostreaomundo.com.
Realmente, precisamos dar valor as coisas simples!!!
ExcluirMenina que texto lacrador esse em ? Assim como você ! Arrasou
ResponderExcluirWww.euquebea.blogspot.com.br
Obrigadaaaa!
ExcluirAdorei o texto <3
ResponderExcluirAmo textos reflexivos e detalhados que conseguem nos passar mensagens!
Bjss ♥
Que bom que você gostou da mensagem!!!
ExcluirOlá, que texto lindo menina, adorei..
ResponderExcluirObrigada, Priscila!
ExcluirSou apaixonada por textos amorzinhos assim <3
ResponderExcluirFazia muitooo tempo que eu não lia algo parecido.
Como sempre digo, você escreve com emoção!
Te desejo muitoo sucesso.
Beijinhuss
Que bom que gostou desse também! Fico feliz! Obrigada!
ExcluirAdorei esse texto!
ResponderExcluirParabéns por criar um história tão linda assim, você é muito boa com as palavras, amei.
Bjs
Muuuito obrigada :)
ExcluirA vida é, pois, a rigor, uma bomba-relógio sem visor.
ResponderExcluirGK
Não poderia ter sido mais claro!
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